quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fora do Tempo - Capítulo 3

  Esse meu tornozelo tá uma merda. Não consigo nem mais ficar em pé, direito. Estou há dois dias nessa cela maldita, não aguento mais esse lugar. E ainda não descobri onde diabos machuquei minha perna. Ah, chinês desgraçado. Chang alguma coisa, sei lá, o nome dele. Do cara que me causou isso, essas viagens temporais desreguladas. E pensar que eu poderia ter dado conta dele nos tempos de colégio. Não estaria nessa situação. Mas eu sempre gostei dessas coisas de ciência, um pouco. E sempre fui um idiota. Eu estava no início de minha carreira, e como qualquer um em início de carreira, não apareciam muitas oportunidades pra mim. Figuração aqui, figuração ali, cadáver na série de investigação policial, et cetera. E, num dia, eu reencontrei Chang, e ele me contou o que estava fazendo. "Eu acho que consegui montar a máquina do tempo, Adam", ele disse. Disse também, é claro, que ganharia muito dinheiro com isso, se provasse que funcionava. E o que eu fiz? É óbvio, me ofereci como cobaia. Tava precisando comer, oras. E deu no que deu. Combinamos de testar a máquina, na noite anterior à demonstração pra imprensa. E lá fui eu, este grande imbecil, para uma fábrica abandonada, no meio do nada, numa noite de tempestade. Eu devia ter desconfiado que ia dar merda. Tempestade, noite e imensos lugares abandonados não formam um trio bacana. Mas fui lá, invadi a fábrica. E, lá dentro, estava ela... A merda da máquina do tempo, que mais parecia um computador da idade da pedra. Puta que pariu, Chang. A máquina era enorme, fazia um barulho ensurdecedor, a quantidade de fumaça que saía era imensa. "Tem certeza que essa merda vai funcionar, China?" "Calma, cara, essa é a primeira versão. A que vamos mostrar está na universidade" "Ah, que beleza. Como você vai testar uma máquina diferente, animal?!" "Só o visual é diferente, Adam. Todo o material é o mesmo, eu tinha de sobra" "Ah, que bom.. Mas, que material é esse? Quem financiou a pesquisa?" "Eu não posso dizer" "Ah, eu que vou ser a cobaia, e não posso saber onde eu estou me metendo?" "É, isso mesmo. Agora.." Estrondos. Estavam arrombando a fábrica. Gritos, correria, e, em poucos minutos, apareceram diante de nós alguns homens armados. Chang, tão horrorizado quanto eu, me empurrou pra dentro da máquina. Filho da puta. O treco começou a sacudir, a exalar um cheiro horroroso, enquanto eu ouvia gritos do lado de fora. Fechei os olhos, com medo, enquanto a máquina ainda balançava. 3 tiros. E eu abri os olhos. Me vi caído, numa situação semelhante à que passei aqui, quando cheguei aos anos 60, agora parando pra comparar. Mas a rua não tinha aspecto antigo. Muito pelo contrário. Olhei para os dois lados, e, em ambos, o mesmo aspecto futurista, daqueles que vemos naquele desenho animado, Os Jetsons. Quando eu me preparava pra sentar, passou por cima de mim algo muito rápido. Sentei-me, apesar de assustado, olhando pra frente. Ali, diante de mim, uma mulher loira, bonita, se vale a observação, em pé em algo que flutuava, que depois entendi ser uma moto. "Vai uma carona aí?", a loira perguntou, rindo. Definitivamente, eu estava no lugar errado. No tempo errado. Eu estava no futuro.

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